Uma das ações que temos durante os encontros são os Protocolos, que cada dia é feito por um dos artistas sobre o que aconteceu naquele dia de trabalho. Segue um deles, de nosso assistente de direção, Fernando Rodrigues:
Pois é, voltei a estudar. Eu leio muito, mas estudar mesmo, isso é, enfrentar um texto, esmiuçando os seus sentidos, contradições e inferências... bem, devo confessar que estava desacostumado. A boa notícia é que eu gostei. Ir mais fundo, ir com mais calma, ir desdobrando, esmiuçando, mastigando idéias, olhando as imagens por trás das cortinas das palavras. Isso dá uma alegria danada e é uma forma peculiar de felicidade. Como estamos num projeto que pretende dialogar com estudantes, compartilhar esse nosso sentimento de prazer diante do conhecimento é uma atitude fundamental, uma atitude política e amorosa. Se conseguirmos passar essa sensação de como aprender e conhecer é bom, acho que por si só tudo se transformaria: a escola, a casa, o corpo, as idéias. Tudo transformado pelo prazer de aprender. Mas é fundamental sublinhar o “prazer”, pois, na maioria dos estabelecimentos de ensino, há uma idéia generalizada, de que aprender é esforço árduo, esforço que tem no prazer sua antítese. Pois é, mas a verdade, é que devemos achar o prazer do esforço, pois como diria Roberto Freire, “sem tesão, não há solução.”
Nesse encontro, continuamos nossas reflexões sobre Arte relacional e, para isso nos debruçamos sobre o texto “Arte Relacional e regime estético: a cultura da atividade dos anos 90”.
E lá fomos nós: vanguardas históricas, futurismo, dadaísmo, primeira guerra, segunda guerra, artistas engajados, artistas desolados, volta ao irracional, representar a sociedade, destruir a sociedade, questionar a sociedade, trazer a sociedade para meu corpo sem representá-la. Relações entre formas artísticas e o meio social. Em cada período histórico, os grupos artísticos através de suas obras propuseram relações. Relações críticas, amorosas, sinestésicas, concretas , abstratas, num único sentido e em vários sentidos. As teorias sobre Arte Relacional apontam para novas proposições artísticas que buscam superar a atitude da obra ou ato artístico como objeto de contemplação para oferecer uma atitude ativa ao público observador. Com isso o ato artístico começa a abarcar também a ação e atitude do “espectador?” - talvez aí já não caiba mais essa palavra. Poderíamos dizer do participante do ato artístico.
E a parte mais valiosa sobre o conceito de Arte Relacional é sua capacidade de reorganizar nossa relação com a história da Arte. Através do conceito podemos voltar em nossos mitos prediletos da produção artística para reavaliá-los sobre outro ponto de vista. Não sobre o afeto gerado sobre um público de seu tempo, mas sobre as formas de relação que as obras ofereceram com seu público. Deixamos de falar sobre efeito causado para falar sobre conexões, que é uma relação mais profunda, integrando identificações, rejeições, sentimentos, atitudes e fantasias em relação a obra.
Vivemos um mundo conectado, mas ainda estamos nos aproximando timidamente da radicalidade que essa afirmação propõe. Estamos ainda aprendendo a viver em conexão, isto é, viver na soma de idéias, ações e experiências que nos rodeia. Conexão é soma, é remix, é simultaneidade, é diversidade. É pra onde o futuro aponta e a Arte já se posiciona como ambiente privilegiado de laboratório de novos comportamentos e mentalidades que serão necessários a um mundo dessa natureza.